Por: Leiliane Roberta Lopes, GospelPrime
Igreja troca doces de Cosme e Damião por doces "santos" |
Cada criança que chegasse com um desses doces entregues por membros de religiões de matriz africana recebeu outro pacote de doces, sem a consagração aos dois santos.
O pastor Isael Teixeira foi entrevistado pelo jornal Extra e deixou claro que esperava receber mil crianças na igreja, mas que nenhuma delas seriam obrigadas a devolver o doce recebido pelas outras religiões.
“É apenas um convite. Só entrega os doces quem quer”, disse ele. Teixeira também disse que os doces que forem entregues seriam queimados. “Geralmente, os saquinhos são queimados, representando fim de todo o mal que, por ventura, foi direcionado às crianças”.
Na visão da igreja, e de outros grupos evangélicos, os doces entregues nesta data são amaldiçoados, uma vez que foram consagrados para entidades malignas.
“A gente pede para trocar o doce abençoado (da igreja) pelo amaldiçoado. Nosso projeto é um meio de trazer as crianças (que não são evangélicas) para o bem, livrando-as do mal. Se a criança come doce (de rua), pode plantar uma semente dentro dela. Eles (outros religiosos) invocam os espíritos para que entrem nos doces”, explicou o pastor.
Os 70 templos da Projeto Vida Nova entregaram cerca de dez mil saquinhos de doce contendo geleia, pipoca doce, bananada e pirulito. Junto com as guloseimas vem também uma Bíblia que serve para evangelizar as crianças não evangélicas dos bairros.
Esse foi o 20º em que a igreja promoveu essa troca de doces, a cabeleireira Raquel Cristo, 36 anos, se converteu há pouco tempo e se tornou voluntária há três anos para ajudar na entrega dos doces gospel.
Raquel vem de uma família espírita e conta que sua mãe entregava doces nessa época depois de consagrá-los aos santos Comes e Damião. “Minha mãe foi espírita e nós vivíamos doentes. Ela fazia mesa de doces de Cosme e Damião e chamava sete crianças para comê-los. Hoje, acredito que a função disso era transferir a nossa doença para elas”, relata.
O jornal Extra foi questionar o babalaô Ivanir dos Santos, presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), sobre o que ela achava da iniciativa da igreja e o religioso disse que a ação “dá sentido a uma mentira”.
“Demonizar a fé de outra religião e ter um mesmo sentido, que é o doce, é um ato de intolerância. E isso, sim, é pecado.”
A vice-presidente do Movimento Umbanda do Amanhã (Muda), Marilena Mattos, também considera a ação como uma intolerância religiosa. “Isso é um fiel retrato da intolerância religiosa. Eles estão mostrando que não aceitam a Umbanda como religião, pois estão denominando nossos rituais como sendo do mal”, disse ela.
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