"Encarecidamente, peço à Justiça dominicana que atue com firmeza e clareza, com base em investigações muito sérias, estabelecendo as sanções que estão previstas no Código Penal", destacou um comunicado do presidente da Conferência do Episcopado Dominicano (CED), cardeal Nicolás de Jesús López Rodríguez.
No texto, divulgado em uma entrevista coletiva por representantes da CED, o cardeal dominicano reconheceu, sem citar nomes, que se está "diante de uma situação que preocupa e envergonha os filhos e as filhas da Igreja Católica".
"Pedir perdão às vítimas dos desalmados que abusaram deles e de seus familiares. Essa súplica de perdão eu estendo à comunidade da Igreja Católica que se sente humilhada com esses abusos inqualificáveis", escreveu o cardeal, destacando o dever da Igreja.
A Igreja católica convocou uma entrevista coletiva, depois que o Vaticano anunciou, na quarta-feira, que retirou Wesolowski do cargo, em 21 de agosto, para ser investigado, como confirmou o porta-voz do papa Francisco, Federico Lombardi. Na entrevista, o secretário-geral do Episcopado, Carmelo Santana, esclareceu que Lombardi confirmou o início de "uma investigação, mas, de modo algum, falou-se que há uma acusação".
Santana declarou que a promotora do Distrito Nacional, Yeni Reynoso, e o procurador "admitiram que não têm uma única denúncia, nem uma única vítima identificada" contra o núncio, que iniciou em 2008 sua missão nesse país, após ser designado pelo papa Bento XVI.
A decisão da Santa Sé foi tomada em meio às denúncias feitas pela imprensa dominicana contra o núncio apostólico, acusado de cometer abuso sexual em menores, os quais contactava na zona colonial da capital.
O cardeal admitiu que "é urgente purificar a Igreja, tirando do Ministério aqueles que o exercem indignamente e não merecem ser chamados de sacerdotes". Ele criticou a imprensa local, porém, afirmando que "há um número indeterminado de supostos comunicadores, mas na realidade são profissionais da intriga".
Segundo a imprensa dominicana, Wesolowski, cujo paradeiro é desconhecido, manteve relações sexuais em troca de dinheiro com meninos e adolescentes na capital Santo Domingo.
Um canal de televisão difundiu imagens de um homem que seria Wesolowski, passeando e usando uma camiseta e um boné. Ele estaria acompanhado do padre polonês Wejciech Gil, também acusado de abusos de menores, na comunidade de Juncalito, na cidade de Santiago, ao norte. Gil deixou o país em maio passado, quando o escândalo explodiu.
A associação de vítimas de pedofilia americana Snap lamentou nesta quinta a punição "secreta e tardia" do papa Francisco contra o núncio do Vaticano na República Dominicana. Jozef Wesolowski, de 65 anos, também foi representante do Vaticano na Bolívia e em países da América Central.
"Os chefes católicos só agem quando são obrigados a fazer isso, sob pressão da mídia. E quando o fazem, é sempre em segredo. Neste caso, sem revelar as acusações, a suspensão, ou a razão da suspensão", lamentou em um comunicado a diretora da Rede de Sobreviventes e Vítimas de Abusos Cometidos por Sacerdotes, Barbara Dorris.
"Como seus predecessores, o papa Francisco age de maneira tardia e secreta", acrescentou.
A destituição pode ser a primeira ordenada pelo Vaticano em um caso de pedofilia.
Na véspera, o procurador-geral da República Dominicana, Francisco Domínguez, anunciou que investigará as "denúncias sérias, nas quais estão envolvidos meninos, meninas e adolescentes, que parecem ter sido vítimas de abusos".
Em um programa de televisão, o prefeito de Juncalito, Pedro Espinal, afirmou ter presenciado como Wesolowski levava crianças para uma casa de veraneio para pernoitar e que dividia os menores com Gil.
Desde que iniciou seu pontificado em março passado, o papa Francisco promove uma luta contra a pedofilia na Igreja. Desde 2000, a instituição tem sido abalada por revelações de milhares de vítimas de abusos sexuais cometidos há décadas por padres no mundo todo, principalmente nos Estados Unidos e na Irlanda.
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