Os católicos americanos que forem à missa neste domingo deverão ouvir um sermão dedicado à defesa da reforma nas leis de imigração do país.
A mensagem será transmitida em inúmeras paróquias de leste a oeste dos Estados Unidos, em uma ação coordenada pela Igreja Católica.
O objetivo é pressionar a Câmara dos Representantes (a câmara baixa do Congresso), onde a maioria é republicana, a aprovar uma reforma que garanta aos 11 milhões de imigrantes em situação ilegal no país a possibilidade de conseguir a cidadania americana.
A ofensiva, iniciada no mês passado, ganha força neste fim de semana, às vésperas do retorno dos congressistas a Washington, após o recesso de verão.
"O Senado dos EUA aprovou uma legislação que prevê ampla reforma migratória com grande maioria. A Câmara dos Representantes atualmente está avaliando se aborda uma lei de reforma migratória que possa oferecer alívio a milhões de pessoas e suas famílias", diz uma carta da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês) enviada a paróquias de todo o país.
"Agora é a hora de contatar seus deputados e pedir que aprovem a reforma", afirma o documento.
Ações
A missa de 8 de setembro é apenas uma das diversas ações já em curso.
Em todo o país, bispos, padres e outros líderes religiosos estão empenhados em telefonemas, troca de mensagens e encontros pessoais com deputados católicos em suas áreas de atuação – especialmente os republicanos, que resistem à reforma defendida pelo presidente Barack Obama.
"Temos uma estratégia de promover encontros com todos os membros do Congresso da nossa área", disse em entrevista à BBC Brasil o diretor da secretaria de Vida, Justiça e Paz da Arquidiocese de Los Angeles, Jaime Huerta.
"São grupos pequenos, de seis a 12 pastores, padres e bispos, todos do distrito do deputado em questão, seus eleitores. Queremos nos encontrar com eles cara a cara, não com seus assessores. Que eles escutem diretamente de seus eleitores católicos a posição da Igreja sobre uma ampla reforma migratória", afirma Huerta.
A Arquidiocese de Los Angeles é a maior dos EUA. Mas o esforço envolve arquidioceses e dioceses de diversos Estados.
Além desses encontros, também estão ocorrendo marchas em todo o país, algumas com duração de vários dias, passando por áreas de influência dos congressistas, na tentativa de angariar apoio à causa.
Na semana passada, mais de mil pessoas marcharam até o escritório do congressista republicano Ed Royce, em Brea, perto de Los Angeles.
"Por seis meses tentamos marcar um encontro, mas ele estava sempre ocupado. Então decidimos organizar uma procissão, com a participação das 16 paróquias católicas de seu distrito", diz Huerta.
Royce acabou se reunindo com um grupo de 27 líderes religiosos.
Impacto
Outros grupos religiosos também vêm promovendo ações em defesa da reforma migratória, mas a expectativa é que o envolvimento da Igreja Católica tenha um impacto maior no Congresso, onde 30% dos parlamentares seguem a religião.
"Acredito que a autoridade moral da Igreja, combinada com um forte argumento econômico em favor da reforma, dá aos parlamentares conservadores uma posição confortável para apoiar a mudança", disse à BBC Brasil a vice-residente de políticas de imigração do Center for American Progress, Angela Kelley.
Ela lembra que a Igreja exerceu papel importante em outras discussões recentes no país, como o aborto ou os contraceptivos.
A Igreja afirma que sua posição sobre a imigração está ancorada no ensinamento religioso de que é obrigação de um bom governo "receber os estrangeiros com caridade e respeito".
Muitos dos católicos americanos são latinos, grupo especialmente afetado pelas leis de imigração. Huerta, no entanto, lembra que várias outras comunidades também sofrem o impacto.
"Esta não é uma questão apenas latina", afirma.
Dificuldades
Apesar da empolgação dos envolvidos na campanha, ainda há muitas dificuldades até que se chegue a uma reforma como a pretendida por Obama.
Em junho o Senado – onde a maioria é democrata – aprovou uma proposta. Mas o tema enfrenta resistência na Câmara. Muitos republicanos são contra a possibilidade de cidadania para imigrantes ilegais.
A expectativa era de que os deputados votassem a reforma em meados de outubro, mas nos últimos dias cresceram os rumores de que a discussão pode ser adiada para 2014, já que restam menos de 40 dias úteis de trabalho no Congresso até o fim do ano e há outros assuntos considerados mais urgentes na pauta.
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