Por: Padre Prata, Jornaldamanha
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
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Pde. Prata |
Eis o fato: uma pobrezinha bateu à porta de uma casa e pediu ajuda. Queria um remédio para diarreia. Estava num estado lastimável. Já perdera o controle e toda aquela matéria pútrida descia pelas pernas abaixo. O mau cheiro era nauseante. Não pedia dinheiro nem comida. Queria um remédio. É muito difícil acreditar, mas a dona da casa levou aquela infeliz para o banheiro e fez com que ela tomasse um banho geral e tivesse condição de voltar para sua casa, limpa e com cheiro de colônia. Eu teria coragem?
A maioria absoluta da população afirma ter um tipo qualquer de religião. Mas, que religião é essa? Quando olhamos com sinceridade para dentro de nós mesmos, nosso comportamento religioso nos assusta. Muitos procuram na religião “respostas” para os acontecimentos que nos agridem. Resposta para a morte, para o câncer, para o Alzheimer, para o suicídio, para o desastre. Respostas para a dor e o sofrimento. Para esse tipo de religiosos a religião é uma espécie de departamento de “pergunte e responderemos”, todas as respostas bem arrumadinhas em gavetas especiais. É só abrir a gavetinha e lá vem a resposta prontinha, inventada não se sabe por quem. Religião boa para certos cristãos é aquela que não exige de mim nenhum compromisso. Não há nenhuma exigência de amor, de perdão, de justiça, de respeito pela vida do outro, de compaixão, de misericórdia, de compreensão e tolerância.
Ser cristão não consiste em pedir respostas a Deus. Jesus já se queixava dessa distorção. Ser cristão é responder aos apelos de Deus que me foram transmitidos por Jesus quando ensinava. Deus não tem nenhuma obrigação de me dar respostas. As respostas devem ser dadas por mim. Ele apenas faz o convite para o Reino. Ele apenas mostra o Caminho. Aceitar ou não aceitar depende de mim. A resposta é minha. Deus não tem obrigação de dar explicações a ninguém. Esse costume de abrir a Bíblia ao acaso “para descobrir o que Deus tem a me dizer” naquele momento é pura superstição.
Essa religião “light” que anda crescendo por aí é uma religião descompromissada. Rótulo. Nada mais. É uma tentativa de instrumentalizar Deus, de colocar Deus a meu serviço e aos meus caprichos. Não podemos nos esquecer nunca de que o Filho de Deus se fez carne e veio trazer-nos um Projeto de vida com uma série de exigências. Ser católico de estatística é fácil. Comprometermos com esse Projeto é difícil. Muito difícil. Espero que você, terminando de ler esta crônica, volte ao início e releia aquele exemplo de amor de um cristão verdadeiro. Lavar os pés uns dos outros é um símbolo muito significativo.
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