Por: Fabiano Maisonnave, folhauol
Bispo de Les Cayes, Haiti |
"É um gesto do Santo Padre não só para os católicos do Haiti, mas para todo o país", disse Langlois à Folha, por telefone. "E é um sinal de que a Igreja está dando mais atenção à nossa situação."
Aos 55 anos, Langlois foi quem mais chamou a atenção entre os 19 primeiros cardeais anunciados pelo papa Francisco, no último domingo (12). O grupo inclui o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, esta uma indicação já esperada.
O bispo haitiano ressaltou que o dia escolhido por Francisco para o anúncio coincidiu com o quarto aniversário do terremoto que matou centenas de milhares de haitianos. "O Santo Padre nos deu uma alegria ao país no dia em que recordávamos o nosso momento mais triste", disse Langlois, que nunca se encontrou com Francisco.
O arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, afirmou que Langlois não era uma escolha óbvia nem mesmo dentro do Haiti, por se tratar do bispo de uma cidade de apenas 50 mil habitantes.
"Além de ser o primeiro daquele país, não é o arcebispo da capital, como se poderia ter esperado, mas de uma diocese do interior", disse por e-mail à Folha dom Odilo, cardeal desde 2007. No ano passado, ele visitou o Haiti, mas não chegou a conhecer Langlois.
"Penso que o papa Francisco quis sinalizar com isso que ele tem uma atenção especial por esse país e por aquele povo sofrido e pobre, que passou, há quatro anos, pela tragédia do terremoto devastador que conhecemos. Além disso, a inclusão de um bispo haitiano no Colégio Cardinalício também indica que os países pequenos e pobres são importantes para a igreja. O papa Francisco olhou para as 'periferias'... Foi uma decisão significativa."
Sem detalhar, Langlois disse também que a sua escolha pode ter sido motivada pela "relação entre o Haiti e a República Dominicana". Trata-se de uma alusão à recente polêmica surgida pela decisão do Tribunal Constitucional.
Em outubro, a corte suprema do país vizinho julgou que os cerca de 200 mil filhos de imigrantes haitianos ilegais nascidos no país não têm direito à cidadania. O anúncio provocou divergências entre os líderes da Igreja Católica nos dois países.
A medida foi duramente criticada pela ONU e países da região por jogar dezenas de milhares de pessoas num limbo jurídico, mas ganhou respaldo irrestrito do cardeal dominicano, Nicolás de Jesús López, tido como um porta-voz da ala mais conservadora da Igreja Católica.
López disse que o Tribunal Constitucional "atuou de acordo com a lei" e denunciou uma "campanha internacional" contra a República Dominicana.
A reação veio no anúncio de Natal da Conferência Episcopal do Haiti, presidida por Langlois. Sem mencionar o país vizinho, o texto diz que, como Jesus Cristo, "muitas famílias haitianas continuam (...) cruzando a fronteira, sofrendo humilhação, rechaço, exclusão e negação de seus direitos fundamentais."
"Em suas viagens ao estrangeiro e em busca de uma vida melhor, encontram o abuso, a degradação, a xenofobia e inclusive a morte", diz a mensagem da conferência presidida por Langlois.
Langlois e López devem conviver por pouco tempo no Colégio Cardinalício: o dominicano está a três anos de chegar aos 80 anos, quando se tornará emérito. Perderá então o direito de participar do conclave (eleição do papa), a missão mais importante de um cardeal.
Com isso, a República Dominicana em breve ficará sem um representante na cúpula do Vaticano após décadas de participação contínua.
Ainda que menos surpreendentes, o papa Francisco fez outras escolhas consideradas inovadoras: o moderado Gualtiero Bassetti, arcebispo de Perugia, cidade italiana que não tinha um cardeal desde o século 19; o filipino Orlando B. Quevedo, arcebispo de Cotabato, cidade menos importante do que a preterida Cebu; e dois africanos: Jean-Pierre Kutwa (Costa do Marfim) e Philippe Nakellentuba Ouédraogo (Burkina Faso).
Todos 19 recém-nomeados serão formalmente recebidos pelo Colégio Cardinalício em 22 de fevereiro, no Vaticano. Desses, três já ultrapassaram os 80 anos e não poderão participar de conclaves.
Com as nomeações, a Igreja Católica volta a contar com 120 cardeais aptos a escolher papas ou a substituir Francisco. Chamados de "príncipes da igreja", costumam vir de grandes arcebispados do mundo, como São Paulo e Rio de Janeiro, ou serem da alta hierarquia do Vaticano.
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